Quando começamos a aprender a programar, tudo parece avançar de uma maneira muito facil e rápida. Aprendemos as variáveis, descobrimos os loops, abusamos dos controles de fluxo e conseguimos chegar no resultado.
As linguagens de programação se parecem com um idioma, como se eu quisesse aprender inglês, sabendo apenas o português. Porém, as linguagens de programação são muito menores: algumas palavras chave, meia-duzia de regrinhas e já “falamos” na linguagem escolhida.
O grande problema começa quando a complexidade aumenta. Conforme nosso projeto cresce, escrevemos mais código. Precisamos interagir com outros sistemas, utilizar um banco de dados, enviar um email. O cliente pede só mais uma funcionalidade, uma “correçãozinha” em outra.
Quando nos damos conta, criamos um monstro. Um emaranhado de código, chamadas dispersadas, variaveis chamadas “a” ou “temp”. Funções que parecem não fazer nada, outras que parecem ser o coração do sistema. Nesse caos nos damos conta de que a cada alteração, vai ser mais dificil mexer ali, é como se estivessemos mexendo concreto, que aos poucos vai secando e se tornando cada vez mais rigido.
Qual foi o problema? Onde começou? O que poderiamos ter feito diferente? Bom, poderiamos ter programado!
Até esse ponto, o que fizemos foi escrever código, digitar uma serie de instruções e esperar que a máquina responda da maneira esperada. Programar vai além de simplesmente escrever código. A diferença entre escrever código e programar é clara como cozinhar em casa ou ir a um restaurante de alta gastronomia. Nós abrimos a geladeira, pegamos o que gostamos, jogamos tudo na panela e comemos, com o intuito simples de comer. Já o chef pensa em todos os detalhes, a textura da comida, a harmonia entre os pratos, a sequencia em que eles devem ser servidos, o equilibrio de sabores.
Programar exige uma gama de habilidades muito diferente. Precisamos ter consciencia dos efeitos do nosso código: será que essa função pode alterar o resultado de outra? Será que essa classe realmente faz só o que ela deveria fazer? E se eu quiser reutilizar esse metódo mas não os demais? Vou ter que pagar o preço de instanciar essa classe e suas dependencias? Minha equipe consegue entender esse algoritmo?
No fim das contas, somos os jardineiros. O que fizemos até agora foi molhar as plantas. Precisamos controlar as pragas de uma maneira não destrutiva, aparar as folhas, eliminar os galhos prejudicados, cuidar do solo. Programar é dificil porque não é só escrever código, é escrever bem esse código, de maneira legivel, limpa, curta e objetiva. É escrever código que se integre com os demais sem incapacitar parte do sistema, mantendo a facilidade de fazer mudanças.
“Lembre-se, como um desenvolvedor de software, você é um stakeholder. Você tem uma participação no software que precisa proteger. Isso faz parte do seu papel, e parte do seu dever. E é uma grande parte da razão pela qual você foi contratado.” Robert C. Martin – Arquitetura Limpa.