Valor é o que se deseja entregar nos projetos. É o que buscamos quando planejamos e executamos projetos, sejam eles de software ou qualquer outra natureza. As metodologias ageis giram em torno disso, o objetivo delas é entregar valor, em maior quantidade possivel e o mais rápido possível. Quem não quer?
O problema começa exatamente aí: todo mundo quer entregar o máximo de valor possível, mas ninguem discute ou define o que É valor. Esse tipo de discussão é muito raso na literatura de Agile, mesmo valor sendo o foco principal. Geralmente, a principal saída, é encarregar uma pessoa na equipe ou na organização de definir o que é valor. O resto da equipe só se ocupa em alcança-lo.
Novas posições são criadas, diferentes níveis de hierarquia aparecem e embora todos pareçam fazer grande trabalho, metas batidas, features entregues, o resultado nem sempre é satisfatório. Na minha opinião, a culpa vem exatamente desse distanciamento. Equipes de software estão cada vez mais distantes da definição de valor e principalmente, se escondem atras do fato de serem “apenas a equipe técnica que segue o que é pedido pelo negócio”.
Por mais que romantizemos nossa ocupação, que desenvolvimento de software é crucial para o negócio, que a empresa não funcionaria sem o nosso software, a realidade não é bem essa. Software é apenas um meio para um fim, nunca o centro. Pode ser a estratégia central para se atingir um objetivo, mas não o objetivo em si.
Tipos de valores
Valores podem tomar diversas formas e vão variar de acordo com o publico-alvo. Alguns valores podem ser categorizados da seguinte maneira:
- Valor do usuário: é o que o usuário do software valoriza, ou seja, quem de fato faz uso do que utilizamos. Uma coisa a se atentar aqui é: o que traz valor para o usuário, não necessáriamente traz valor ao negócio. Valores de usuário tendem a ser mais individuais e centralizados. Quando um usuário prefere que uma ação seja automatizada, evitando o trabalho manual, mas o negócio requer que ele faça a ação manual, reforçando a importância da conferência.
- Valor do cliente: são os interesses do próprio cliente, ou de quem consome o serviço do negócio (que não precisa ser o software). Podemos utilizar como exemplo, um software de logística: quem utiliza é a equipe interna, quem “consome” é quem recebe o produto. A logística pode ter uma foma que valorize mais o cliente, quem utiliza a plataforma (tanto os usuários diretos quanto os entregadores, por exemplo) ou o próprio negócio. Ex.: O cliente prefere receber durante o horário comercial. Os entregadores preferem fazer o trajeto fora do horário comercial, evitando o trânsito. Já para o negócio, é mais viavel que o trajeto seja feito tão logo a venda é concluída e a entrega feita ao final do trajeto;
- Valor do negócio: aqui é onde se define os objetivos de mais alto nível, ou seja, os objetivos da organização em si. São os objetivos que vão governar os demais e guiar a decisão, inclusive no julgamento dos demais valores. Acredito que o valor do negócio já tenha ficado claro nos exemplos anteriores.
Afinal, como entregar valor?
Medir por lucro, ou dinheiro, não costuma ser uma boa medida de valor. Negócios precisam ser lucrativos e gerar dividendos, porém, esse não deve ser seu principal objetivo, e por isso, medir valor de entrega dos projetos por dinheiro não é um bom caminho.
Valores são hipóteses. São idéias de como atingir os objetios do negócio. É preciso descobri-los, testa-los e, se necessário, jogar no lixo. Então, se você é desenvolvedor, saia do cubículo e vá interagir com o negócio. Qual foi a ultima vez que você fez um tour pela empresa? Quantas vezes você passou o dia com alguem, conhecendo e entendendo o dia a dia e o processo? Vivenciando e presenciando os problemas do negócio?
Fazer esse levantamente e esse julgamento, não é, e nunca deveria ser, papel de uma única pessoa. Esse papel é do time como um todo. Deve ser feito em conjunto com o negócio, com quem vive no dia a dia, e quem já entrega valor. É preciso levar em conta os objetivos da organização, os usuários, o público-alvo, e tudo que os cerca.
Determinar e entregar valor é dificil. Seria muito máis facil uma receitinha de bolo, não é? Receitas de bolo entregam muito valor, e é exatamente esse: um bolo. A realidade é muito mais complexa e devemos tratá-la como tal.
Referências
The Art of Business Value – Mark Schwartz